sábado, 1 de maio de 2010

DANÇOU, DANÇASTE, DANCEI

                                      José Luongo da Silveira

Adoro enigmas e tudo o que desperta antigos medos,          
mágicas formas e ocultos sortilégios
que povoam o intervalo de ser e estar consciente.
Algo que denuncia o vazio da existência,
como as antigas criptas cobertas de musgos
e nuas cavidades tumulares
que vertem um tempo que passou.

Notei naquela tumba brancas tíbias
espalhadas sobre a terra nua
e à medida em que o tédio aumentava,
com a voz embargada perguntei:
quem foram essas pessoas,
que sonhos embalaram suas vidas?
por acaso amaram e foram a amadas?

Só o silêncio responde essas perguntas,
enquanto a tarde irrompe com sua aragem fria.
Toda a pergunta está num horizonte aberto,
ou se torna semente acorrentada,
não há formas de confrontá-la, de exorcizá-la,
nenhum grito, nenhuma réplica despertará da tumba
quem dorme inerte sem mais desfechos.

Toda a urgência de uma vida já passou
e o que preciso fazer é cobrir esses despojos,
devolvê-los: “Terra à terra, pó ao pó”,
e depois, seguir meus passos para além daqui
Aqui só há morte sem pudor,
despudoradamente nua,
como a circunstância exige.

Um dia, alguém descobrirá em outra tumba,
tuas quimeras que ao léu foram lançadas,
e ninguém saberá das fogueiras que acendeste,
nem dos rasgos de asas e das noites solitárias.
E perguntará também: quem foi o viajante esquecido
que dorme entre as folhas secas do salgueiro?
Sempre é melhor fazer de conta de que tudo tem sentido,
tudo se encaixa numa lógica aristotélica.

Dá até para sorrir e olhar para trás indiferente,
mesmo porque haverá tempo antes de virar semente,
algo que ainda permite surfar na superfície.
Entre as sombras vagueio cambaleante,
caminho sem saber onde ancorar a espera.

Ó Luz Suave varre os fantasmas,
deixa-me dormir no teu regaço
o doce aconchego das promessas.

2 comentários:

  1. Meu caro Luongo, sua pluma nos remete a algo que nos foge e ao mesmo tempo nos invade a alma e quer apoderar-se do nosso ser.
    Parece a mim que o Amor buscou uma trilha paralela para alcançar a ti e no teu coração re-pousar.
    Anima-te e prossegue!
    Cordial abraço!

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