segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Esperei por ti


José Luongo da Silveira

A beira do caminho
durante tantos anos
esperei por ti,
em vão busquei as marcas dos teus passos
na estrada vazia

Enquanto a voz rouca do vento
fustiga as minhas lembranças
os dias seguem as noites,
as sementes erguem os braços,
as aves voam aos bandos para o norte
e tu não vens?
só a porta,
a porta que deixei aberta
traz a miragem de um céu deserto



segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Os netos são a tentativa de regresso


A tarde já vai longe
e não há mais como voltar,
mesmo porque, estive tanto tempo ausente
e onde encontraria o caminho de regresso?
Descansar aqui é o bastante,
com os olhos presos onde o coração repousa.

Na verdade, nunca estive no lugar certo,
na hora certa.
Sempre tão perto e tão longe...
Num mundo denso de emoções,
me afastei do caminho
quando a boca escancarada pede sinfonias.

Por que agora soltar o grito,
rufar tambores se nunca lamentei a sorte?
Talvez o peito ainda exangue
só agora varreu os vestígios da espera de sentir-se limpo,
como a terra depois da chuva de verão.

A tarde já vai longe
e não há mais como voltar,
mesmo porque, estive tanto tempo ausente
e onde encontraria o caminho de regresso?
Descansar aqui é o bastante,
com os olhos presos onde o coração repousa.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A morte não é nada...

           Santo Agostinho de Hipona

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.
               

Nada te turbe...


 (Santa Teresa D'Ávila)

Nada te perturbe, Nada te espante,
 
Tudo passa, Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
 
Quem a Deus tem, Nada lhe falta:
 
Só Deus basta.
 

Eleva o pensamento, Ao céu sobe,
 
Por nada te angusties, Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, Com grande entrega,
 
E, venha o que vier, Nada te espante.
Vês a glória do mundo? É glória vã;
 
Nada tem de estável, Tudo passa.

Deseje às coisas celestes, Que sempre duram;
 
Fiel e rico em promessas, Deus não muda.

Ama-o como merece, Bondade Imensa; 
Confiança e fé viva, Mantenha a alma,
 
Que quem crê espera, Tudo alcança.
A maldade, a injustiça, 
O abandono, não ameaçará,
Quem a Deus tem,
 
Mesmo que passe por momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro, Nada lhe falta.

Versos nacidos al fuego del amor

Santa Teresa D’Ávila
Obras Completas, Burgos, Editorial "Monte Carmelo”
Vivo sin vivir en mí,
y de tal manera espero,
que muero porque no muero.                                                                      

Vivo ya fuera de mí                                                      
después que muero de amor;
porque vivo en el Señor,
que me quiso para sí;
cuando el corazón le di
puse en él este letrero:
que muero porque no muero.

Esta divina prisión
del amor con que yo vivo
ha hecho a Dios mi cautivo,
y libre mi corazón;
y causa en mí tal pasión
ver a Dios mi prisionero,
que muero porque no muero.

¡Ay, qué larga es esta vida!
¡Qué duros estos destierros,
esta cárcel, estos hierros
en que el alma está metida!
Sólo esperar la salida
me causa dolor tan fiero,
que muero porque no muero.

¡Ay, qué vida tan amarga
do no se goza el Señor!
Porque si es dulce el amor,
no lo es la esperanza larga.
Quíteme Dios esta carga,
más pesada que el acero,
que muero porque no muero.

Sólo con la confianza
vivo de que he de morir,
porque muriendo, el vivir
me asegura mi esperanza.
Muerte do el vivir se alcanza,
no te tardes, que te espero,
que muero porque no muero.

Mira que el amor es fuerte,
vida, no me seas molesta;
mira que sólo te resta,
para ganarte, perderte.
Venga ya la dulce muerte,
el morir venga ligero,
que muero porque no muero.

Aquella vida de arriba
es la vida verdadera;
hasta que esta vida muera,
no se goza estando viva.
Muerte, no me seas esquiva;
viva muriendo primero,
que muero porque no muero.

Vida, ¿qué puedo yo darle
a mi Dios, que vive en mí,
si no es el perderte a ti
para mejor a Él gozarle?
Quiero muriendo alcanzarle,
pues tanto a mi Amado quiero,
que muero porque no muero.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A dúvida

José Luongo da Silveira


Tudo se passa como que um palco,
de braços abertos para o mundo                                                
eu contemplo e contemplo sem entendimento
esse estranho equilíbrio dos opostos.

Somos ossos, músculos, células vivas,
somos combinações químicas,
numa seqüência inexorável
que vai do gênese à decomposição.

E tudo se esvai tão de pressa e sem sentido,
nem mesmo acabamos de sentir o sopro
do primeiro alento.

Será que a passagem pela vida
formam sinais perdidos,
sem a resposta para nossos ais?

Nada me assusta mais, tenho certeza,
que a idéia de nunca despertar
e tudo se tornar um sonho lindo que findou...

Meu Deus, eu creio,
firme e intensamente,
que além das sofreguidões do tempo
terá sentido a dádiva do amor.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Um espaço de liberdade

José Luongo da Silveira


Não quero a agressividade dos prepotentes,                            
a confusão dos pensadores
que denunciam novas fórmulas
para a aventura humana.
A eloquência dos políticos
e a passividade dos crentes.

Não me fascina a glória,
nem busco a mediocridade.

Sou um homem comum
à procura de sua própria identidade.
Forjo o caminho que me leva de volta ao cotidiano
e o pequeno vôo começa.
Deste encontro secreto brota na alma a ternura,
sensibilidade da lágrima,
onde celebro a vida com o cântaro d’água e a marmita,
pequenas coisas...