quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O tropel de cavalhadas



José Luongo da Silveira


Nos verdes campos do pampa esquecido              
chamado agora de Fronteira Oeste,
nessas paragens o minuano ainda galopeia
e quando a neblina irrompe em noite enluarada
ouve-se muito além desse coxilhão calado
o som de clarins e de mouriscas lanças,
que trazem consigo o tropel de cavalhadas.

Lá perto, bem perto da cova de touros
em meio a pêlos, sangue e o resfolegar das feras
sempre em combate no cio da primavera,
dorme frondoso o velho umbu, da batalha
de Cerro do Ouro testemunha silenciosa,
onde centenas de bravos jazem numa cova rasa.

Nesse rincão de epopéias, revoluções e degolas,
alí bem ao sul, no sul do sul - eu nasci.
Lembro aida e esquecer quem hade
das lendas narradas em torno do braseiro:
fogo de chão, cambona e chimarrão,
sabor amargo que nasceu charrua.

Nessas noites de tertúlias e devaneios
o velho Theodoro com um olhar sobrio proseava
sobre as estranhas histórias de fantasmas,
de almas penadas dos soldados mortos
que sem descanso vagueiam entre as taperas,
além da Pedra do Segredo, onde por certo,
o tesouro dos jesuitas está guardado.

Há poucos dias passei na campa solitária,
no jazigo de mármore onde ainda dormem
no Cerro do Ouro os que tombaram na batalha,
ali há um cenário inerte de sensações estranlhas
e só o murmúrio do vento abranda o abandono,
como se fosse a sentinela de um tempo findo,
dizendo coisas que mais ninguém entende.
Será que com a morte se eterniza a essência
respondendo as perguntas de nossa existência.

2 comentários:

  1. O tropel das cavalhadas contrasta com o silêncio das sepulturas dos heróis anônimos que embalaram, no berço do coração, sonho da liberdada tentado pela tirânia. Linda esta poesia. É uma pena que nosso País esteja tão futilizado pela literatura de baixo nível. Um grande abraço ao poeta Luongo.

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